Na turbulenta década de 1980, a advocacia no Espírito Santo enfrentava desafios significativos, assim como outros profissionais de todo o país. Em meio a um cenário político volátil, os advogados Rômulo Louzada Bernardo e Roberto Depes embarcaram na missão de revitalizar a então inativa Subseção de Cachoeiro de Itapemirim. O que parecia uma tarefa quase impossível, devido à falta de recursos e estrutura, transformou-se em uma simbólica história de resiliência e sucesso.
Presidente da 2ª Subseção da OAB-ES durante o biênio 1985/1986, Rômulo relembra o período com uma combinação de orgulho e nostalgia. “Eu e o Dr. Roberto Depes resolvemos, praticamente, recriar nossa atual Subseção. Não havia livros, registros, sede, etc.”, comentou. Com determinação inabalável, a dupla conseguiu alugar uma sala, adquirir uma máquina de escrever e contratar uma secretária – marcos aparentemente modestos, mas que delimitaram o início de uma jornada emblemática.
Durante sua gestão, o advogado enfrentou o desafio de unificar a classe e garantir o respeito à OAB. Entre as principais conquistas, como rememora na entrevista abaixo, ele destaca a criação da “Sala dos Advogados” na Delegacia de Polícia da época, a aquisição de uma sede própria para a Subseção e a organização de palestras com renomados juristas, a exemplo de Miguel Reale e Heleno Cláudio Fragoso.
Como foi o processo de formação da 2ª Subseção da OAB-ES e qual era o contexto político e jurídico da época?
A Subseção de Cachoeiro estava inativa há muitos anos. Na década de 1980, eu e o Dr. Roberto Depes resolvemos, praticamente, recriar nossa atual Subseção. Não havia livros, registros, sede, etc. Dr. Roberto foi eleito presidente e eu vice-presidente. Conseguimos alugar uma sala, adquirimos uma máquina de escrever, contratamos uma secretária e começamos a trabalhar. Em seguida, fui eleito presidente e, posteriormente, conselheiro seccional, tendo que renunciar a este último cargo para assumir a Procuradoria-Geral do Município.
Quais foram os principais desafios enfrentados pela Subseção durante o período em que esteve à frente da instituição?
O principal foi unir a classe e fazer a OAB respeitada.
De igual modo, quais as principais conquistas e marcos importantes alcançados pela 2ª Subseção durante a sua gestão?
Conseguimos uma “Sala dos Advogados” na Delegacia de Polícia para o atendimento aos clientes presos, a Seccional (OAB-ES) adquiriu uma sala própria para nossa sede e trouxemos a Cachoeiro de Itapemirim grandes juristas para falarem sobre temas importantes para a advocacia, tais como o professor Miguel Reale, o advogado criminal, jurista e escritor Heleno Cláudio Fragoso e outros igualmente importantes. Gostaria de lembrar também, apenas para registro, minha colaboração para a doação da área onde está edificada atualmente nossa sede atual, tendo conseguido a regularização do imóvel perante o Cartório de Registro de Imóveis (CRI), graças à boa vontade do ex-prefeito Theodorico de Assis Ferraço.
Como o senhor descreveria o papel da OAB no fortalecimento da advocacia no Espírito Santo?
Atualmente, a OAB/ES goza de grande prestígio, sendo chamada a opinar sobre questões relevantes para o povo do nosso Estado.
Qual o momento mais marcante que vivenciou durante seu mandato como presidente?
Foi quando trouxe a Cachoeiro de Itapemirim o professor Miguel Reale, filósofo, reitor da Universidade de São Paulo (USP), autor de livros adotados nas maiores faculdades de direito do Brasil e do mundo. A sede do Clube Atlético Ita, no centro da cidade, foi pequena para comportar advogados, juízes, promotores, desembargadores e professores de direito do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais que vieram ouvir o grande mestre. Foi um sucesso absoluto. Tive a honra de recepcioná-lo, juntamente com sua esposa, em minha residência.
Na sua opinião, como a 2ª Subseção tem acompanhado e se adaptado às mudanças no cenário jurídico e político do Brasil?
Nossa Subseção é muito ativa, proporcionado aos advogados cursos de atualização, promovendo palestras sobre temas jurídicos de interesse da classe e participando da discussão de questões de interesse da comunidade, como a discussão do empréstimo que a Prefeitura Municipal de Cachoeiro de Itapemirim pretendia fazer e que foi obrigada a retirar o projeto enviado à Câmara dos Vereadores, recentemente.
Que legado acredita ter deixado para a 2ª Subseção e para a advocacia?
Prestígio e respeito dos advogados em sua atividade, indispensável ao funcionamento da Justiça.
Como vê o papel da OAB-ES e suas Subseções na atualidade, especialmente em relação à defesa dos direitos e prerrogativas dos advogados?
A defesa das prerrogativas dos advogados tem sido feita com coragem e determinação pela OAB.
Sob sua perspectiva, quais são os principais desafios que a advocacia enfrenta atualmente?
A advocacia tem sofrido grandes transformações. O advogado é obrigado a atualizar-se constantemente.
Qual sua visão sobre o futuro da profissão?
Nos moldes tradicionais, nossa atividade caminha para a extinção. No futuro próximo tudo será diferente.