A 2ª Subseção da OAB-ES sediou, na noite de terça-feira (7), o lançamento do livro “Onde Estão os Filhos da Violência?”, obra que desloca o foco tradicional dos estudos sobre violência doméstica para examinar as consequências sobre crianças e adolescentes que habitam lares violentos. A publicação, escrita pela juíza Hermínia Maria Azoury, coordenadora estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), pela psicóloga clínica Ana Paula Vieira Fraga e pela pedagoga Karla Lopes da Silva, baseia-se em abordagem multidisciplinar para demonstrar que filhos de vítimas de violência doméstica constituem vítimas diretas e indiretas dessa dinâmica familiar destrutiva.
O evento, iniciado às 18 horas na sede da 2ª Subseção, em Cachoeiro de Itapemirim, contou com patrocínio da ArcelorMittal. O convite distribuído pelas autoras caracterizou a obra como “reflexões profundas sobre a valorização da mulher e o cuidado com filhos vítimas da violência doméstica, tornando-se um verdadeiro manual para políticas públicas”. A escolha da casa da advocacia regional como espaço de lançamento da obra no sul do estado reflete o reconhecimento do papel central dos profissionais jurídicos na implementação de políticas de proteção à infância e adolescência expostas à violência familiar.


























A publicação surge em contexto epidemiológico que revela magnitude do problema no Brasil, onde 605.976 crianças e adolescentes de até 19 anos sofreram violência doméstica entre 2013 e 2023, conforme Atlas da Violência 2025. A juíza Hermínia Azoury fundamentou parte significativa da obra em pesquisa empírica realizada quando atuava na 1ª Vara Especializada da Infância e Juventude, onde deparou-se com expressivo número de menores em conflito com a lei.
Ao entrevistar mães, avós e responsáveis que acompanhavam esses adolescentes, ela descobriu que 85% eram vítimas de violência doméstica. “No término das sessões, chamava ao meu gabinete para saber se elas eram vítimas de violência doméstica e, para o meu espanto, 85% estavam nessa situação. Percebi o inevitável: aqueles menores infratores eram oriundos de lares violentos, tóxicos”. Este dado empírico sustenta tese central da obra sobre perpetuação intergeracional da violência.















O lançamento anterior na Assembleia Legislativa do Espírito Santo, ocorrido em 29 de setembro, evidenciou relevância política da obra, que foi caracterizada por autoridades presentes como contribuição fundamental para formulação de políticas públicas baseadas em evidências. A escolha de realizar o segundo lançamento na sede da 2ª Subseção da OAB-ES demonstra reconhecimento pelas autoras do papel estratégico da advocacia na implementação de medidas protetivas e no litígio de casos envolvendo crianças e adolescentes vítimas de violência familiar.