A Mobilização Nacional Mulheres Vivas realizou, na última quinta-feira (11), um ato na Praça Jerônimo Monteiro, em Cachoeiro de Itapemirim, reunindo instituições jurídicas, coletivos feministas e representantes da sociedade civil em resposta à escalada da violência de gênero no país. A ação integrou a agenda nacional do movimento que promoveu manifestações simultâneas em pelo menos 20 estados brasileiros, após o país ultrapassar a marca de mil feminicídios apenas em 2025, segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
A 2ª Subseção da OAB-ES participou oficialmente do ato, com a presença da vice-presidente Priscilla Thomaz de Oliveira, que discursou na ocasião, e da advogada Valéria Martins Hoinhas, presidente da Comissão de Direitos Humanos, Diversidade Sexual e PcD da subseção. A participação institucional da Ordem marca um posicionamento da advocacia capixaba diante do que autoridades classificam como emergência nacional de violência contra mulheres, com quatro vidas interrompidas por dia.
Em seu discurso, a vice-presidente Priscilla Thomaz destacou o papel histórico da OAB na defesa dos direitos fundamentais e convocou a sociedade, especialmente os homens, a assumirem protagonismo no combate ao feminicídio. “Estamos aqui hoje porque não podemos mais conviver com a barbárie naturalizada que invade nossos lares, nossos bairros, nossas cidades”, afirmou a advogada, acrescentando que “já passou da hora de dizer, com toda a força das nossas vozes: basta de violências contra as mulheres. Basta de feminicídios”.

A vice-presidente da 2ª Subseção enfatizou que a luta contra a violência de gênero não pode ser exclusivamente feminina. “Os homens precisam estar nesta campanha. Todos os dias. O dia todo. Precisam assumir seu papel de transformar comportamentos, enfrentar o machismo estrutural, corrigir atitudes, acolher denúncias e ser parte ativa da mudança”, declarou Priscilla Thomaz, afirmando ainda que “o silêncio dos homens sempre foi cúmplice, as brincadeiras e piadas de mal gosto também. O engajamento deles agora precisa ser protagonista”.
A mobilização em Cachoeiro ocorreu em um contexto de intensificação da violência de gênero na região. Até o início de novembro, 890 registros de violência doméstica haviam sido contabilizados no município, segundo a delegada da Mulher, Edilma Oliveira. O debate local foi reacendido após o feminicídio da empresária Cláudia Cristina da Silva Fernandes, de 53 anos, ocorrido em 16 de novembro, quando o marido, Marcelo Fernandes, de 57 anos, confessou ter cometido o crime por atropelamento.
A vice-presidente Priscilla Thomaz destacou a atuação histórica da OAB na construção de marcos legais de proteção às mulheres. “Nós, da Ordem dos Advogados do Brasil, estamos aqui porque entendemos nosso compromisso histórico e contínuo com a defesa da cidadania e dos direitos fundamentais. Estivemos presentes na construção da Constituição Federal cidadã. Contribuímos para o avanço da Lei Maria da Penha, uma das legislações mais importantes do mundo no combate à violência doméstica. Também no Protocolo de Julgamento sob Perspectiva de Gênero”, afirmou.

A advogada alertou que a existência de marcos legais não é suficiente sem efetividade na aplicação. “Mas não basta ter leis. Temos que fazer valer. Fazer acontecer. Garantir que cada direito seja efetivamente vivido por cada mulher, em cada canto deste país. E isso começa pelo mais essencial de todos os direitos: o direito à vida — à vida com respeito, com segurança, com dignidade”, declarou.
O discurso enfatizou que a violência contra mulheres transcende a esfera privada e constitui grave problema de saúde pública. “A violência contra a mulher não é um problema privado. Não é um drama individual. Não é ‘coisa de casal’. É um grave problema social, que atinge famílias inteiras, que destrói infâncias, que fratura comunidades, toda a sociedade, que compromete o futuro do país”, afirmou Priscilla Thomaz, acrescentando que “todos nós somos responsáveis. Poder público, sociedade civil, instituições, empresas, escolas, comunidades, famílias. Todos precisamos nos unir para interromper essa tragédia que se repete todos os dias no Brasil”.
Durante o ato, manifestantes exibiram cartazes com frases como “Homem de verdade não bate em mulher”, “Estamos zero dias sem feminicídios” e “Respeito não é favor, é direito”. Participaram também, entre outros, a organizadora Joana D’arck Caetano, a jornalista Regina Monteiro, a presidente da Academia Cachoeirense de Letras, Marilene Depes, e o bispo diocesano Dom Luiz Fernando Lisboa, que leu carta dirigida aos homens citando dados do Espírito Santo: 15.954 atendimentos por violência no Ligue 180 em 2024, com alta de 44%, e 41% dos homicídios femininos classificados como feminicídio em 2023.

A vice-presidente da 2ª Subseção concluiu seu discurso reafirmando o compromisso institucional com a causa. “A OAB está à disposição — para apoiar, dialogar, ajudar na construção de políticas públicas, fiscalizar o cumprimento das leis, fortalecer redes de proteção e somar esforços com todos que lutam pela vida das mulheres. E seguiremos firmes, com coragem, para que este país deixe de ser um lugar onde mulheres morrem simplesmente por serem mulheres. A vida das mulheres importa — hoje, amanhã e sempre”, declarou. Após a concentração na praça, os manifestantes seguiram em passeata até a avenida Beira Rio.















