Tema oportuno

Ao tratar do aleitamento materno, Comissão da Mulher Advogada contribuiu para evidenciar debate

A Comissão da Mulher Advogada (CMA) da 2ª Subseção da OAB/ES pode se orgulhar pelo significativo número de iniciativas realizadas, até aqui, ao longo do ano de 2023. Além da recente palestra que marcou a campanha “Outubro Rosa”, uma generosa parcela dos eventos e projetos executados ou em execução pela Ordem para advogados e, particularmente, advogadas da área de abrangência da OAB Cachoeiro de Itapemirim teve, ou terá, a promoção ou o apoio do grupo. Não é pouca coisa, reconheça-se.

Somente deste segundo semestre fazem parte da lista, por exemplo, ações como a aula sobre “mediação e conciliação” com foco na postura da advocacia. Realizada no último dia 25 de outubro, com preleção da especialista Alline Berger de Oliveira e promovida em parceria com a Comissão de Direito de Família, o tema despertou o interesse de número considerável de inscritos. Além disso, na relação constam ainda a aula sobre “contabilidade para advogadas e advogados” no final de julho, concebida em conjunto com a Comissão da Jovem Advocacia; a ação conjunta das duas comissões para arrecadar doações de fraldas geriátricas destinadas ao asilo Lar João XXIII; e, tão importante quanto, a preocupação em dar visibilidade à temática da campanha “Agosto Dourado”. Esta última, vale destacar, merece nota à parte.

O “Agosto Dourado”, como devem ter consciência parte dos leitores, foi criado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e, como amplamente difundido, promove anualmente o incentivo à amamentação no mundo inteiro. O nome da campanha vem justamente do fato de que o leite materno é considerado “padrão ouro” na alimentação infantil.

Estima-se, segundo dados do Ministério da Saúde de 2023, que 41% das mães brasileiras amamentam exclusivamente os bebês nos seis primeiros meses, o que concede ao país o honroso reconhecimento como referência mundial em amamentação, à frente de nações como os Estados Unidos, Reino Unido e China. O tema é de tamanha relevância que a lei federal nº 13.435, de 2017, promove em todo o país, no mês de agosto, a luta pelo incentivo à amamentação. Fácil, portanto, compreender a preocupação da Comissão da Mulher Advogada ao dedicar atenção à iniciativa.

“O aleitamento materno é um direito não só da criança, mas também das mães, e está garantido por diversas leis em nosso ordenamento jurídico pátrio, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90) e a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT (Lei nº 5.452/43)”, destaca a advogada Franciele Freitas de Assis, coordenadora da CMA.

Dra. Franciele Freitas de Assis

Ela lembra que a campanha, assim como outras, está diretamente relacionada às advogadas da 2ª Subseção, especialmente àquelas que estão vivenciando e enfrentando os desafios dessa etapa tão importante. “O principal objetivo da Comissão ao apoiá-la é conscientizar a sociedade e as advogadas sobre o tema”, argumenta Franciele.

Mães de filhos que estão sendo, ou foram, até recentemente amamentados, as advogadas Viviane Fidelis e Alessandra Agustinho Ferreira não somente reconhecem a importância do ato, como igualmente defendem as iniciativas que estimulam advogadas e outras mães.

“A amamentação, diferente da gravidez, é muitas vezes silenciosa. Quando se está grávida, não raro, o espanto visual que a barriga causa acaba por impor um respeito maior. Mas o aleitamento não. Ele é silencioso, apesar de ser a fase que o bebe mais demanda da mãe. É triste que ainda sintamos receio de amamentar em público ou em ambientes profissionais. É triste que ainda nos olhem como sendo menos capazes, ou mais ‘frágeis’ por estarmos amamentando. A conscientização sobre o aleitamento materno não deve ser voltada apenas para mulheres lactantes ou futuras lactantes. Deve ser uma pauta discutida por toda comunidade jurídica”, pondera Viviane.

Dra. Alessandra Agustinho Ferreira

Coordenadora da Comissão de Direito Criminal e Direitos Humanos da 2ª Subseção ela está vivenciando a experiência pessoalmente. A advogada é mãe de uma bebê de três meses e concilia, com maestria inegável, sua dedicação à filha e aos compromissos profissionais. “De fato, equilibrar maternidade, amamentação e a vida profissional é um verdadeiro desafio, mas a flexibilidade que a advocacia proporciona ajuda muito a tornar isso possível”, diz. Viviane, assim como outras colegas em oportunidade anterior, também observa que é primordial possuir uma boa rede de apoio, respeitando sempre os limites físicos e psíquicos que a função de mãe impõe.

Conciliar a maternidade, o aleitamento materno e os compromissos da profissão eventualmente pode exigir medidas criativas. A advogada Alessandra Agustinho Ferreira, por exemplo, admite que, desde que o filho, que hoje tem cerca de um ano e quatro meses, nasceu, “optou pelo home office”, o que, de certa forma, tornou os eventuais contratempos ainda maiores.

“O desafio torna-se, realmente, conciliar. Hoje, meu filho não está mais em amamentação exclusiva, o que facilita contar com o apoio de outras pessoas. Entretanto, nos primeiros meses, a dificuldade era harmonizar o trabalho com o momento de me dedicar à amamentação” conta Alessandra. Como ela mesma salienta, o futuro da advocacia em relação à maternidade e ao aleitamento materno exige disseminar informação de qualidade.

“Hoje, nós mulheres temos exercido cada dia mais papéis de destaque no meio jurídico e na sociedade, com isso, precisamos dar voz a esse tema e disseminar informação de qualidade, para que as futuras mães saibam da importância do aleitamento materno e consigam encontrar formas de conciliar as dificuldades existentes na maternidade”, adverte. O recado é inegavelmente válido.

Publicado na revista Advocacia, edição nº 09