Para a imensa maioria das mulheres que são mães, certamente existe um antes e um depois da maternidade. O tema, notadamente relevante, torna-se ainda mais oportuno quando considerado sob o ponto de vista daquelas que conciliam os cuidados maternos com a quase sempre extenuante jornada em uma atividade profissional, a exemplo de parte significativa das advogadas inscritas nos quadros da 2ª Subseção da OAB/ES.
Para estas, como comenta a advogada Viviana Silotti Simer, não raro conciliar o exercício da advocacia com a maternidade revela-se um desafio que exige habilidade, jogo de cintura e, sempre que possível, ter uma rede de apoio com que se possa contar.
“A maternidade é a experiência mais intensa que se pode ter na vida e você acredita que nunca estará preparada. No entanto, no dia que nasce o seu filho também nasce uma mãe. Ou seja, a maternidade é um momento de descoberta. Só se aprende a ser mãe em seu exercício cotidiano”, defende Viviana, que advoga desde 2016 e é mãe desde 2020.
Esta perspectiva é, em boa parte, compartilhada pela também advogada Mylla Conterini Buson Tirello. Mãe de um filho de cinco anos e grávida de uma menina, com cinco meses de gestação, ela argumenta que a maternidade não é “mais uma atribuição”, dentre as várias funções que fazem parte da vida de qualquer mulher de hoje, mas sim uma missão.
“É se doar, dar um pedaço do que somos, da nossa inteligência, o nosso tempo, energia e sentimento para construir outro ser humano, em caráter e físico. Eu amo me dedicar aos meus filhos. Busco estar atenta e aprender sobre todos os aspectos que envolvem o desenvolvimento de uma criança, pois sinto prazer em ensinar, mostrar limites, consequências, cuidar e estar junto”, revela.
Assim como Viviana, Mylla reconhece o valor de se ter uma rede de apoio. “Apesar de desafiador, conto com a ajuda e compreensão de meus sócios e marido (que também é advogado e meu sócio) sempre que preciso. Além disso, tenho uma pessoa que me auxilia em casa e também precisei aprender a delegar e confiar nos que estão à minha volta”, comenta.
A opinião de ambas acresce ao posicionamento defendido pela advogada Franciele Freitas de Assis. Coordenadora da Comissão da Mulher Advogada da 2ª Subseção da OAB/ES (CMA) e mãe há cinco anos da pequena Helena, ela advoga desde 2015 e considera a maternidade uma dádiva.
“Através dela tenho vivenciado o amadurecimento como mulher e ser humano. Aprendi a me doar por completo, sem limites, e mesmo assim me sentir inteira. Minha experiência como mãe tem sido desafiadora, pois a todo tempo sou testada a me corrigir para ser exemplo, a renunciar para estar presente, entre tantos desafios inerentes a responsabilidade de educar”, diz.
Do ponto de vista de Franciele, conciliar o exercício profissional com a maternidade “é cansativo e requer muita dedicação, mas também um olhar de empatia para si mesma, de modo que não seja frustrante”.
O trio é uníssono em reconhecer alguns avanços importantes conquistados pelas advogadas nos últimos anos. Destacam, por exemplo, a Lei nº 13.363/2016. O diploma normativo, como bem sabe boa parte da advocacia brasileira, garante uma série de direitos à advogada gestante, lactante ou adotante, dentre estes, a reserva de vagas de garagens nos fóruns; entrada em tribunais sem ser submetida a detectores de metais e aparelhos de “raio x”; preferência na ordem das sustentações orais e audiências; além de suspensão de prazos processuais quando for a única patrona da causa e desde que seu cliente seja notificado.
“Dentro da minha experiência de atuação na 2ª Subseção, e de acordo com relatos de colegas próximas, tais direitos sempre foram observados pelas serventias do nosso fórum estadual, bem como magistrados e servidores”, destaca Mylla.
Viviana, por sua vez, chama atenção ao fato de que a OAB Cachoeiro foi exemplo de respeito ao que preceitua a lei, ao providenciar a adequação dos banheiros femininos com trocador de fraldas. “Ademais, as mulheres já representam mais da metade dos inscritos na Ordem, e essa conscientização é o caminho para fortalecer a OAB como grande organização que é”, argumenta, citando outra conquista importante: a paridade de gênero.
Na mesma linha, Franciele rememora que atualmente mais de 50% das coordenações de comissões na 2ª Subseção são titularizadas por mulheres. A coordenadora da CMA credita este cenário à constatação de que “a mulher possui uma capacidade única de otimizar seu tempo e conseguir administrar os dois lados (maternidade e profissão)”, o que, na sua opinião, “tem sido reconhecido pela OAB”.
“Os diálogos que envolvem a mulher advogada como um todo tem sido cada vez mais necessários. Hoje, em todo o Brasil, somamos cerca de 683.326 advogadas inscritas nos quadros da Ordem, enquanto temos 652.876 advogados inscritos, conforme dados atualizados disponíveis no site da OAB Nacional”, menciona.
Ela, assim como as demais entrevistadas, concorda que a maternidade é um evento transformador na vida de qualquer mulher. Dito isto, revela-se necessário reconhecer que, concomitantemente, a prática jurídica, como sabem os advogados, requer dedicação, estudo contínuo e disponibilidade. Assim, a tarefa de conciliar esses dois papéis é, com certeza, verdadeira manifestação de resistência e determinação. Trata-se, em última análise, de prova incontestável de que as mães advogadas demonstram admirável força e resiliência ao enfrentarem diariamente obstáculos para garantir a defesa dos direitos de seus clientes, ao passo que zelam pelo bem-estar e educação de seus filhos.